Querido Pai, querida Mãe.

Poxa, de longe, esta é a carta mais fácil. Acho engraçado como eu, uma garota que ama escrever cartas, não me lembro de já ter feito alguma para vocês. Sei que fiz uma de presente de aniversário para o Papai, coloquei dentro de uma garrafa para ficar parecendo coisa de pirata e tudo o mais. Porém, acho que foi a única.

E tanto tempo já se passou.

Sei que não sou mais a garota que escreveu aquela carta, e nem vocês são. Todos mudamos, todas as situações mudaram. Nossas vidas são diferentes agora. Não moramos mais na mesma casa, eu consegui me formar no Ensino Médio e, poxa vida, eu estou na faculdade. E o melhor: no curso que vocês sempre souberam que era o que eu queria.

Não sei se as coisas que faço, as decisões que tomo, orgulham vocês. Eu espero que sim, eu me sentiria péssima se as expectativas que vocês tem sobre mim não fossem atingidas. Não acho justo com vocês, que sempre lutaram tanto pela minha educação (tanto a acadêmica quanto a educação pessoal), sempre se esforçaram para não deixar faltar nada em casa. Trabalharam até tarde, muitas vezes (e até hoje) em mais de um emprego. Muitas vezes tiveram que se sacrificar para ver minhas irmãs e eu bem. Eu reconheço tudo isso, por isso tenho tanto medo de falhar com vocês. Não seria justo, não seria correto.

Vocês sabem tudo sobre mim, mais do que eu mesma. Conhecem de trás para frente minha lista de defeitos e entram em um consenso sobre qual é o principal deles: viver pelos outros.

Vocês sabem que eu faço isso. É sempre assim. Quando percebo, não estou vivendo para mim, é sempre para alguém, por alguém, por alguma coisa. Nunca é colocando a Wendy no centro das coisas, em primeiro lugar. Nunca é pensando na Wendy. Isso poderia ser uma qualidade, mas no meu caso, vocês sabem que não é.

E vocês sempre me falam para lembrar que eu existo. Que minha vida não é nada sem eu mesma. Todos os dias eu tento me lembrar disso, tento viver isso, para mim, por mim. Espero um dia conseguir de verdade, e orgulhá-los com isso.

Vocês sempre me apoiaram, me impulsionaram. Respeitaram minhas decisões, mesmo quando sabiam que eu ia quebrar a cara no final. Obrigada por terem feito isso. Por não me segurarem, me deixarem livre para aprender com meus próprios erros. Eu não seria a pessoa que sou hoje se não fosse por isso. Aliás,  tenho até medo de imaginar como eu seria.

Como você disse esses dias, mãe, eu sempre fui lenta. E vocês sempre ficaram me empurrando. Eu sei que demorou (afinal, 22 anos é um tanto de tempo), mas hoje eu já consigo andar melhor sozinha, sem precisar do andador de vocês. Digo, lógico que ainda preciso, acho que sempre vou precisar, mas sinto confiança para andar sem ele.

Portanto, obrigada.

Eu estou onde estou, sou como sou, porque vocês me empurraram. Mesmo quando eu queria desistir, desanimava, vocês me empurravam, me ajudavam a achar uma solução. Me faziam continuar na busca pelos meus sonhos. Eu não tenho como agradecer. Nunca vou conseguir.

Na verdade, espero retribuir pelo menos 1/10 de tudo o que fizeram por mim. Que Deus me ajude, que eu tenha condições de cuidar de vocês como vocês sempre cuidaram de mim.

E que, enquanto esse dia não chegar, que Ele esteja sempre cuidando de vocês.

Obrigada por tudo e mais um pouco.

Amo vocês para sempre.

Da eterna garotinha de vocês,

Wendy.

Beijos e até a próxima ;*